Marina Petzen*
“Atender às necessidades dos presentes, sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”, esta é a definição básica de sustentabilidade, a qual tem relação com o desenvolvimento sustentável, que é o fato de se desenvolver causando menor impacto, sem comprometer ou esgotar os recursos. Perceberam que até agora não falamos sobre meio ambiente ou natureza? Este é o nosso grande desafio enquanto profissionais e entusiastas da sustentabilidade: mostrar que não somos “ecochatos” e que ser sustentável inclui diversos aspectos da vida em sociedade.
Sustentabilidade é o equilíbrio das coisas; é como uma balança, onde, de um lado, estão o desenvolvimento e o crescimento econômico, e, do outro, o meio ambiente e a sociedade. Para que haja sustentabilidade, a balança deve estar equilibrada, todos os aspectos devem ter o mesmo “peso”. Portanto, algo sustentável precisa ser ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável.
Quando esses conceitos são compreendidos, é possível aplicar a sustentabilidade em tudo: podemos construir cidades, negócios, escolas e moradias sustentáveis, mas só será possível se cada ser humano adotar práticas sustentáveis em suas vidas. As mudanças acontecem a partir das escolhas responsáveis que fizemos, pois cada pequena atitude feita de forma positiva irá construir uma grande mudança. Nós, cidadãos e constantes consumidores, somos agentes de transformação, mas, talvez, muitos ainda não compreenderam isso.
Ao falar de sustentabilidade e consumo, estamos falando sobre consumo consciente, quando o ato de consumir qualquer bem de consumo ou serviço é realizado de forma pensada. Um consumidor consciente não compra por impulso, porque todos compram ou, ainda, porque está na promoção. Um consumidor consciente é aquele que se informa, lê rótulos, embalagens e etiquetas e, principalmente, olha para si e para as suas verdadeiras necessidades antes de comprar.
Quando falamos de sustentabilidade e consumo consciente, é essencial falar da moda. Mas, afinal, o que é moda? Moda é comportamento, é costume, é estilo! Então, não faz sentido a moda ser passageira, impactante e trivial, afinal, ela faz parte da rotina de todos; precisamos olhar para ela de forma consciente. A moda sustentável figura como uma importante tendência, mas que veio para ficar, pois reúne mundialmente um número expressivo de marcas e consumidores.
Mas, então, a moda sustentável não gera impacto? Depende! Não existe resposta padrão para determinar se uma roupa é ou não sustentável; precisamos buscar informações sobre as marcas e os tecidos antes de adquirir, refletir sobre as preferências de consumo e utilização das roupas, bem como fazer durar. Existem tecidos naturais, artificiais e sintéticos, ambos com aspectos positivos e negativos, mas tudo depende do tipo de consumidor que somos, do que desejamos com uma peça, do que faz sentido para nós e de qual impacto podemos evitar. Uma roupa “barata” pode “custar caro” para nós, para outras pessoas, para outros animais e para o planeta.
Uma marca sustentável deve se preocupar com a cadeia produtiva em que está inserida. Ética, respeito, qualidade, responsabilidade e sustentabilidade são alguns dos pilares da moda sustentável, ou seja, não é somente sobre usar matéria-prima “ecológica”, mas, sim, estarmos verdadeiramente atentos às condições de trabalho e remuneração dos profissionais, ao uso dos recursos naturais, à viabilidade econômica e a quanto seus produtos são acessíveis ao mercado, bem com ao destino dos seus produtos após o consumo. Uma marca sustentável entende a responsabilidade compartilhada, em que, além do seu negócio, também se preocupa com seus stakeholders (fornecedores, parceiros, transporte e clientes) e acredita nas economias circular, colaborativa e compartilhada.
Enquanto a moda tradicional tem como característica o fast fashion, que é um padrão de produção e consumo no qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados rapidamente, a moda sustentável tem como premissa o movimento slow fashion, que é exatamente o oposto: uma moda lenta, na qual as peças são feitas para durar e com respeito ao meio ambiente, e isso inclui os seres humanos. A sustentabilidade como um todo é desafiadora, e dentro da moda é ainda mais complexa, pois predominam pequenos negócios, marcas locais, autorais e artesanais, que enfrentam um cenário tradicional promovido por grandes marcas que possuem recursos e estão estabelecidas junto à sociedade. É possível construir uma moda mais sustentável e este segmento não precisa ser visto como vilão do planeta.
A moda sustentável passou a ser um movimento que cresce e conquista seu espaço devido ao mercado consumidor estar mais consciente com relação às suas escolhas. Neste sentido, encontramos marcas que, além de oferecerem produtos, também conduzem ações e projetos de sustentabilidade e reciclagem envolvendo a comunidade em que está inserida. A regra é causar o menor impacto negativo possível, potencializando impactos positivos.
Importante compreender que moda sustentável não é sobre as roupas; é sobre quais roupas, do que são feitas, como e onde são produzidas. É oferecer itens com propósito, qualidade, conforto, ética e sensibilização. Através desta moda mais consciente está o desejo de vestir bem contribuindo positivamente com o meio ambiente e toda a rede envolvida, reverberando ideias e ideais.
Que tal repensar a forma como você olha para a moda? Acredite! É possível mudar o mundo, um pouquinho por vez, a partir das nossas escolhas de consumo.