Segundo arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves, embora os modernos empreendimentos ofereçam tais inovações, falta incentivo do poder público para uso consciente dos recursos naturais, como o reaproveitamento de água
Acontece que, esse quadro não precisaria ser tão grave se, primeiro, a população brasileira tivesse uma efetiva educação ambiental; e segundo, se tecnologias e sistemas de reuso de água ou que estimulam o consumo racional já estivessem sendo usados em larga escala no País. É no que acredita o arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves, especializado em desenvolvimento de empreendimentos imobiliários. Segundo ele, muitos dos novos empreendimentos que estão sendo lançados e construídos atualmente pelo mercado imobiliário, já contam com mecanismos de captação das águas da chuva ou de reuso da água fornecida pela concessionária de saneamento.
Segundo o especialista, são tecnologias que requerem um investimento um pouco maior na construção, mas que têm um retorno imediato para o morador e claro, para o meio ambiente. “Hoje você recebe uma água potável na sua casa que é toda descartada só com um primeiro uso, sendo que atualmente existem tecnologias super acessíveis e que irão pegar essas águas, como por exemplo a água usada no banho, que será armazenada e tratada numa subestação, podendo ser tranquilamente usada para outros fins. Isso, além de bom para o meio ambiente, é economia para as famílias”, afirma Paulo Renato.
Mas apesar de muitos novos projetos prevêrem tais tecnologias de uso sustentável da água, elas não são obrigatórias nos empreendimentos. O urbanista lembra, porém, que essa discussão já existe, em Goiânia inclusive, mas precisa avançar. “Esses sistemas de reuso e captação da água da chuva ainda não são uma obrigação, mas espera-se que seja em breve. Já há muitas cidades Brasil afora que já discutem isso. Em Goiânia mesmo, há um projeto de lei municipal que propõe tal obrigatoriedade”, revela Paulo Renato.
Lençol freático
Mas Paulo Renato aponta alguns avanços importantes nas leis sobre a gestão dos recursos hídricos. “As legislações municipais têm se atentado muito a isso. Uma dessas ferramentas que já tem sido amplamente usada, e que em Goiânia é obrigatória, são os poços de infiltração. Os empreendimentos precisam ter a caixa de recarga, poço de infiltração, que nada mais são formas de você pegar a água que vem das chuvas e devolvê-la para o lençol freático”, destaca.
Paulo Renato afirma que a preservação dos lençóis freáticos é uma questão primordial para a manutenção da água potável. Ele, inclusive, condena o hábito de muitas famílias, que ao construírem ou comprarem uma casa eliminam as áreas permeáveis ou cobertura verde desses terrenos. “Na maioria das residências pela cidade, a área permeável que a prefeitura exige nos terrenos, depois que o proprietário tem o habite-se, é toda cimentada. Então o que acontece com a água da chuva? Ela cai no telhado ou no chão, desce, vai para o piso, sai desse terreno e vai para a rede pluvial. Então essa água não volta para o lençol freático. Então, além do uso exagerado, há uma interrupção desse ciclo natural da água, o que com tempo reflete nesse desequilíbrio hídrico que estamos vendo hoje ”, explica o arquiteto e urbanista.
Para Paulo Renato, além de uma maior conscientização da população brasileira sobre o uso racional da água, faltam ainda políticas públicas que incentivem as pessoas e empresas a adotarem essas tecnologias sustentáveis. “Acho que aqui no Brasil a população só irá fazer alguma coisa se houver de fato algum incentivo. Só pela conscientização, pura e simplesmente, eu não acredito que a grande maioria da população o faça”.
O urbanista defende incentivos fortes por parte do poder público. “As prefeituras podem perfeitamente implantar políticas de incentivo fiscal ou de desconto no IPTU para quem implantar na sua casa, por exemplo, uma canalização para captação de água da chuva, que é algo muito simples”, sugere.
Experiências fora
O urbanista cita várias experiências de sucessos que já são adotadas em outros países há um bom tempo e podem ser facilmente implantadas aqui no Brasil. “Na Alemanha, por exemplo, já desde os anos 1980 as casas e prédios contam com sistemas de reuso da água da chuva. Essa água é armazenada e depois utilizada para irrigação, para descarga, para limpeza e outros usos. Em todo o Japão, por exemplo, usa-se água da captação das chuvas. Inclusive, em várias cidades japonesas você encontra empreendimentos, que não só captam a água da chuva, mas a tornam potável”, exemplifica Paulo Renato Alves.
De acordo o urbanista, países que adotam uma gestão eficiente dos recursos hídricos têm quase sempre algo incomum, terem em algum momento de sua história passado por uma forte escassez de água, o que faz das populações destas nações mais conscientes. “A Alemanha, por exemplo, viveu uma Grande Guerra, e por isso eles sabem bem o que é escassez, não só de água, mas de alimento e outras coisas vitais. Nesses países eles sabem que a falta de água potável gera mortes”, alerta o especialista.