Por Viviã de Sousa
@etisecobr
Uma instituição possui uma grande responsabilidade com a representatividade e o desenvolvimento de um segmento. As diretrizes estabelecidas por cada uma delas possui um significado muito expressivo para o setor que representa e, também, gera impactos nos resultados de toda uma cadeia. Por isso, é muito importante a compreensão, em todos os setores, de cada papel dentro desse cenário, para que atuem na promoção de ações e políticas que contribuam com o fortalecimento e a melhoria como um todo em sua área de atuação.
As ações de preservação, sustentabilidade e defesa do meio ambiente são responsabilidade de todos e dever do Estado. Assim, a promoção de atitudes, ações e políticas que contribuam para a conscientização e o envolvimento de cada pessoa é fundamental para revertermos esse cenário e reduzirmos o impacto de nossas ações no planeta.
Com o objetivo de envolver cada vez mais lideranças que inspiram e ajudem a levar essa mensagem para todos os setores, entrevistamos Fábio Leite Gastal, presidente da Organização Nacional de Acreditação (ONA), instituição responsável pelo desenvolvimento e pela gestão dos padrões brasileiros de qualidade e segurança em saúde, para conhecer mais de perto o trabalho realizado e a adoção dessas práticas para o Setor Saúde.
A ONA trabalha desde 1999 para que as instituições de saúde no Brasil adotem práticas de gestão e assistenciais que levem à melhoria do cuidado para o paciente. Hoje, mais de 80% das instituições acreditadas no país adotam os padrões ONA, que são reconhecidos também no exterior. A ONA é membro da International Society for Quality in Health Care (ISQua) e atua ao lado de instituições que promovem a qualidade da saúde em países como Estados Unidos, Reino Unido, França e Canadá.
Os padrões ONA podem ser adotados por: hospitais, ambulatórios, laboratórios, serviços de pronto atendimento, home care, serviços oncológicos, serviços de medicina hiperbárica, serviços de hemoterapia, serviços de nefrologia e terapia renal substitutiva, serviços de diagnóstico por imagem, radioterapia e medicina nuclear, serviços odontológicos, serviços de processamento de roupas para a saúde, serviços de dietoterapia, serviços de manipulação, serviços de esterilização e reprocessamento de materiais. Confira a entrevista na íntegra.
ETIS – Quais são os maiores desafios a serem enfrentados pela nova Diretoria da ONA? Aproveitamos para dar as boas-vindas, Dr. Fábio!
Fábio Leite Gastal – Os desafios que nós estamos enfrentando agora, e que vamos encarar nesse triênio que assumimos, é justamente focar primeiramente essa questão da saída da pandemia, que afetou profundamente a economia e o tecido social do Brasil. As instituições de saúde e a ONA, como parte desse sistema de saúde, visa, de todas as formas, contribuir para o fortalecimento do segmento, para que tenhamos uma presença importante como fator de desenvolvimento e progresso social para a sociedade brasileira. Nessa perspectiva, o Setor Saúde, inserido nesse contexto da sociedade brasileira, entende que todas as entidades (e a ONA está entre elas) têm um papel fundamental a cumprir nesse processo referente à recuperação da economia, a construção de um país melhor e a recuperação desse deficit que, de alguma maneira, vai ficar de iniquidade, de desigualdade, de problema de ordem socioeconômica e ambiental também, justamente por conta do agravamento da crise social brasileira em função da questão econômica.
ETIS – Gostaríamos que o sr. falasse um pouco sobre as novas perspectivas da Diretoria para esse triênio.
Fábio Leite Gastal – Para nós, do Setor Saúde, é uma situação paradoxal, porque o setor está inserido na sociedade brasileira, e percebemos a solidariedade e a preocupação de forma generosa sobre todas as dificuldades que a nossa sociedade está vivendo. Mas, por outro lado, nosso segmento sai fortalecido desse episódio histórico porque, de alguma maneira, mesmo com todas as dificuldades, conseguiu dar respostas à altura das necessidades e dos desafios que a pandemia nos trouxe. Talvez até tivéssemos nos saído melhor se houvesse um processo de gerenciamento mais coordenado, uma articulação melhor e uma liderança nacional mais estruturada e organizada. De qualquer maneira, eu acho que o grande ator nesse processo da pandemia é o Setor Saúde como um todo, e o SUS [Sistema Único de Saúde] em particular, pela contribuição que vem dando à questão do Programa Nacional de Imunização. Veja a velocidade com que são entregues as vacinas para os estados e os municípios para imunizar a população. A ONA, como entidade nacional que coordena a questão da qualidade e da gestão da segurança do paciente no país, tem muito a fazer no sentido de fortalecer essas políticas e o serviço de saúde, além de contribuir para que a saúde oferecida para a nossa população seja cada vez melhor e mais adequada para todos.
ETIS – Sobre a questão da sustentabilidade e a política ambiental, quais são as medidas aplicadas pela ONA atualmente?
Fábio Leite Gastal – É importante destacar que a ONA sempre teve essa questão da segurança e da gestão de risco como um dos pilares da metodologia de acreditação. Então, desde o primeiro manual, lá nos anos 1990, o controle dos resíduos e a gestão correta deles, seja resíduo hospitalar, seja resíduo sólido e líquido das instituições de saúde, sempre estiveram presentes. Óbvio que, agora, à medida que a própria metodologia evoluiu e com a discussão desse conceito de economia circular, de responsabilidade socioambiental, os manuais da ONA vêm sendo atualizados para propor ao Setor Saúde uma conexão cada vez maior com o conceito de sustentabilidade socioambiental. O novo manual que vai ser apresentado no final do ano pela ONA apresentará uma série de requisitos que alinham a acreditação com os conceitos de relação socioambiental e toda essa questão de economia circular, de equilíbrio energético, no sentido de geração, cogeração, energia limpa, conceitos que conectam o hospital dentro da economia verde ou economia circular, ou, ainda, ecoeficiência. Evoluímos gradativamente há 20 anos. O começo foi a discussão fundamental de uma gestão responsável dos resíduos, tanto hospitalar quanto sólidos e líquidos; depois, o conceito evoluiu para economia circular, com a responsabilidade socioambiental; posteriormente, dessa total integração que tem hoje a qualidade, a gestão e também a segurança do paciente com a questão da responsabilidade socioambiental.
ETIS – O sr. é um dos principais líderes da saúde. Como compreende o seu papel e a sua responsabilidade com a sustentabilidade nesse setor?
Fábio Leite Gastal – Eu posso dizer com bastante tranquilidade que, por toda essa história da ONA no processo de acreditação no Brasil e no Sistema Brasileiro de Acreditação, temos trabalhado muito a conscientização. Nos últimos anos, também tenho tido esse compromisso com o sistema Unimed, o qual, por ser o maior sistema de cooperativas médicas do mundo, tem uma conexão de aliança cooperativista internacional que é uma das maiores apoiadoras dos objetivos do desenvolvimento sustentável da ONA. Então, mundialmente, as cooperativas trabalham de forma integrada para promover um mundo melhor, mais equilibrado e mais justo, e que, de alguma maneira, seja mais ecoeficiente e ecorresponssável. Nessa linha da integralidade das ações e da sustentabilidade no sentido amplo, que diz respeito ao bem-estar biopsicossocial e ambiental das populações.
ETIS – Qual a sua mensagem para os nossos leitores?
Fábio Leite Gastal – A nossa contribuição é um grão de areia, porque a ONA é uma instituição da sociedade civil organizada e que está a serviço da cidadania e da sociedade brasileira. Dentro desse esforço de promover a qualidade dos serviços de saúde e a segurança do paciente, precisamos cada vez mais desenvolver ações voltadas para a sustentabilidade das organizações de saúde e do seu equilíbrio em um sistema complexo como é a sociedade humana.