Carlos RV Silva Filho*
O mundo vem observando o crescimento contínuo da geração de resíduos, e a tendência parece ser a mesma para os próximos anos em quase todas as regiões do planeta. Segundo dados das Nações Unidas e do Banco Mundial, em 2011, coexistiam, na Terra, cerca de 7 bilhões de pessoas, e a geração de resíduos urbanos por ano era de 1,3 bilhão de toneladas. A previsão apresentada por essas instituições mostra que, em 2050, haverá 10 bilhões de pessoas e uma geração de resíduos estimada em cerca de 3,4 bilhões de toneladas por ano. Isso significa que o crescimento da população será de 43% e a geração de resíduos triplicará. Enquanto isso, o planeta já apresenta sinais claros de estresse, com reduzida capacidade de renovação dos recursos naturais, apresentando eventos climáticos descontrolados e intensificados.
No momento em que estamos entrando em uma nova década, esse tipo de informação alerta para a necessidade de mais atenção para assuntos de meio ambiente, com o objetivo de garantir maior longevidade e melhor qualidade de vida em nosso planeta. Até porque essa não é uma década qualquer. De acordo com as Nações Unidas, esta é a década de ação para cumprir a Agenda de Desenvolvimento Sustentável 2030. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aprovados por unanimidade por todos os Estados-membros das Nações Unidas, foram estabelecidos para viabilizar ações concretas direcionadas a vencer a pobreza, proteger a Terra e construir um mundo próspero e pacífico até 2030, o que nos dá quase dez anos para mobilizar esforços a fim de contribuir para o futuro que queremos.
É preciso concordar que estamos enfrentando notícias alarmantes a cada dia; porém, a situação é ainda mais preocupante se o atual sistema de gerenciamento linear de resíduos, que está presente em muitos lugares do mundo, continuar sem cobertura total de coleta e envio de resíduos indiferenciados para locais de disposição final, a maioria inadequada, causando enormes impactos ao meio ambiente e à saúde humana.
As questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável vêm assumindo maior importância na agenda dos diversos públicos, como os governos, as empresas e a sociedade, que buscam soluções adequadas para estimular o desenvolvimento econômico sem comprometer o meio ambiente, tendo adotado uma nova sigla para representar tal movimento: ESG, que remete a meio ambiente, responsabilidade social e governança, os mesmos princípios que pautam a mencionada Agenda 2030.
Nesse mister, é importante ressaltar que a gestão de resíduos tem um papel central para auxiliar no cumprimento das metas estabelecidas em cada um dos 17 ODS, sendo um setor transversal para praticamente todos os demais setores da economia, com ações passíveis de serem integradas nos temas que estão postos para que essa Agenda seja possível. Diversas práticas e soluções já foram identificadas para permitir que este setor contribua decisivamente para o atendimento dos ODS.
Prevenção da geração, reciclagem, tratamento e recuperação (como materiais secundários e energia) de resíduos, combate ao lixo no mar, integração dos setores informais e combate ao desperdício de alimentos são algumas das práticas bem conhecidas que podem (e devem) ser maximizadas pela indústria de resíduos, em auxílio aos demais setores da economia (indústria, comércio e serviços) e às autoridades locais e regionais, com soluções sob medida e para propor melhorias nas políticas e nos sistemas atualmente adotados.
Para tanto, faz-se necessário o desenvolvimento de um plano de ação transversal, voltado para otimizar a recuperação e a utilização dos recursos existentes, com uma visão multidimensional, que leve em consideração aspectos ambientais, econômicos, sociotécnicos e políticos, além das mudanças comportamentais necessárias. Regulamentações claras e esquemas de conformidade e governança também estão pendentes de serem desenvolvidos, juntamente a estruturas financeiras e econômicas.
A adesão da sociedade à gestão sustentável e adequada de resíduos já é uma realidade em muitas partes do mundo desenvolvido, e alguns países em desenvolvimento estão seguindo mais de perto. Não há dúvida de que os benefícios emergentes de um sistema adequado de gestão e recuperação de resíduos representam uma conquista importante para o futuro da humanidade, sendo esta a década da ação.
* Diretor-presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) e presidente da International Solid Waste Association (ISWA).