Janaina Adriana da Trindade*
Você já deve ter ouvido, no seu período escolar, a seguinte frase: “A Química está em tudo”. Talvez não tenhamos dado tanta importância para esta frase, mas realmente a Química está em tudo: no ambiente em que vivemos, no que usamos, no que comemos e, principalmente, em nós mesmos. Somos pura Química!
Ainda sim você deve ter ouvido falar: “A Química é a vilã de tudo. Ela agride a nossa saúde e o meio ambiente”. Consideram demasiadamente a Química “fabricada”, aquela sintética e artificial, e, muitas vezes, esquecem da Química natural.
Claro que não iremos discutir aqui sobre as diversas reações químicas orgânicas, inorgânicas e analíticas que ocorrem a todo momento, bem embaixo do nosso nariz. Entretanto, vamos abordar só um pouquinho delas, algumas que estão presentes na Química do nosso meio ambiente, a Química que nos rodeia.
Pela manhã, acordamos, nos espreguiçamos e vamos ao banheiro para escovar os dentes e tomar um delicioso banho. Utilizamos o creme dental, o sabonete e o xampu. O sorbitol e o carbonato de cálcio compõem o nosso creme dental, assim como o sal sódico de ácido graxo e a monoetanolamina de ácido graxo; e o álcool cetílico e o pantenol compõem o sabonete e o xampu, respectivamente.
Feito isso, para começar bem o dia, tomamos aquele café bem quentinho com leite e comemos um pão fofinho com manteiga ou margarina. Neste momento, temos como companhias: a cafeína; a lactose; a reação da glicose mais enzima, que gera etanol e gás carbônico na produção do pão; a gordura animal ou a gordura vegetal hidrogenada; e demais componentes da manteiga e da margarina.
Após o café da manhã, a rotina é iniciada. Saímos de casa. Da porta, puxamos o ar: uma mistura de oxigênio, nitrogênio em maiores porcentagens e gás carbônico e gases nobres em menores proporções. Olhamos para o céu e as nuvens carregadas aparecem; o tempo está nublado.
Na Química do meio ambiente, vários são os fatores que contribuem para o tempo estar nublado: o acúmulo de substâncias provenientes da própria natureza, como gases ou partículas de atividades de vulcões, e a decomposição ou a liberação de metano por animais durante o processo de digestão são alguns deles.
No entanto, não se pode esquecer das atividades humanas que contribuem com o acúmulo de substâncias na atmosfera: as atividades de indústrias, a queima de combustíveis fósseis, a queima das florestas, além das fontes móveis, como os veículos automotores. Sim, o carro ou o ônibus que utilizamos produz, quando em movimento, reações químicas que contribuem com a poluição do ar.
Durante o trajeto ao trabalho, contemplamos, da janela, mudas de árvores recém-plantadas. Nos perguntamos: “será que já se alimentaram hoje?”. E até nos assustamos com esse pensamento quase infantil. As árvores se alimentam sim, pela fotossíntese, que é uma reação química de gás carbônico, água e luz solar, gerando glicose e oxigênio.
No solo onde estão plantadas as árvores também há várias propriedades químicas (pH, condutividade elétrica, capacidade de troca iônica) que cooperam com as propriedades biológicas para o crescimento delas e que, futuramente, contribuirão na atenuação dos poluentes do ar.
Já perto do trabalho, avistamos um terreno baldio com diversos sacos de lixo, grande parte deles aberta, talvez por animais à procura de comida. O mau cheiro vindo do líquido quase viscoso escorrendo pelo terreno pode nos causar náuseas. Esse líquido percolado, conhecido popularmente como chorume, é um material tóxico formado por elevadas concentrações de compostos orgânicos, inorgânicos (metais pesados) e amônia. O chorume pode se infiltrar e contaminar o solo e, também, as águas subterrâneas, trazendo uma série de problemas ao meio ambiente e à saúde humana.
No ambiente de trabalho, após algumas horas, sentimos sede e lembramos de beber água: a famosa reação química de duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio. Colocamos a água em um copo plástico descartável: polímeros. Recordamos de algum noticiário que dizia: “A fauna marinha está sendo cada vez mais ameaçada pelo grande número de materiais plásticos presentes nos oceanos”. Poluição das águas. “E por que não adotar um consumo consciente e trazer uma garrafinha?” – sorrimos satisfeitos por esse pensamento. “Que sensação boa!” Olha aí o quarteto químico da felicidade: endorfina, serotonina, dopamina e oxitocina.
Finalizando o horário de expediente, tomamos o mesmo caminho de volta para casa. Já é noite e o céu está estrelado. Será que conseguimos imaginar quantas moléculas de hidrogênio e hélio podem compor uma única estrela?
Esta é outra trajetória que tenho certeza que você terá vontade de fazer e vai concordar definitivamente com seus antigos professores: “A Química está em tudo!”.
* Bacharel em Química e Engenharia Ambiental. Atua na área de educação como professora conteudista de ciências exatas e como consultora nas áreas ambiental e de segurança do trabalho.