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Fundação Bunge entrega prêmio a cientistas brasileiros em evento em SP

by rafaelteoc

Serão laureados três pesquisadores com trabalhos nos temas “Soluções baseadas na natureza para agricultura sustentável” e “Conhecimentos e estratégias contra a fome”

Cientistas brasileiros que são referências em estudos relacionados a soluções baseadas na natureza para agricultura sustentável, na área de Ciências Agrárias, e conhecimentos e estratégias contra a fome, na área de Ciências Humanas e Sociais, serão agraciados no próximo dia 28 de setembro, na cerimônia de entrega do Prêmio Fundação Bunge, na Sociedade Hípica Paulista. Inspirado no Nobel, o Prêmio Fundação Bunge está em sua 67ª edição e é uma das principais premiações brasileiras de reconhecimento de mérito científico, literário e artístico do País.

Neste ano, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Adalberto Luis Val, será agraciado na categoria Vida e Obra, no tema Soluções baseadas na natureza para agricultura sustentável e inclusiva. Luis Val é reconhecido mundialmente por seus estudos relacionados à fisiologia e a adaptação dos peixes às mudanças geológicas e climáticas da região amazônica. Seu trabalho busca entender como as mudanças aceleradas causadas pelo homem acabam impactando nos peixes da região e como isso se relaciona com a população, grande consumidora desses organismos. Hoje, os peixes representam 90% de toda a proteína consumida na região amazônica.

Ainda nesta área, Fernando Shintate Galindo, pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Dracena), será agraciado na categoria Juventude, destinada a pesquisadores com até 35 anos, por seus estudos sobre o uso eficiente de fertilizantes, manejo sustentável de nutrientes e fitotecnia de culturas de grande escala, como soja, milho e cana-de-açúcar. Os trabalhos do pesquisador mostram que o uso de bioinsumos em lavouras de milho, por exemplo, pode reduzir em até 25% o uso de adubos nitrogenados. Essa redução significa cerca de R$ 190 reais por hectare de economia para o produtor rural. Como o Brasil produz 22 milhões de hectares de milho, aproximadamente, o uso dessa tecnologia pelos agricultores brasileiros têm potencial de reduzir os custos de produção em R$ 4 bilhões por ano.

Já no tema Conhecimentos e estratégias contra a fome, a pesquisadora do Centro Internacional de Equidade em Saúde (International Center of Equity in Health – ICEH) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Lissandra Amorim Santos, será premiada na categoria Juventude. Lissandra será reconhecida por suas pesquisas em desigualdade de gênero em nutrição e saúde. Os estudos da cientista mostram que a insegurança alimentar moderada e grave no Brasil tem gênero e raça: ocorre com mais intensidade em domicílios chefiados por mulheres negras em todas as regiões do país.

“É uma grande alegria homenagear cientistas que desenvolvem pesquisas de excelência em nosso país. O Prêmio Fundação Bunge visa incentivar a ciência nacional e de certa forma inspirar futuros pesquisadores. Só teremos um país desenvolvido se incentivarmos a ciência, a pesquisa e a inovação”, afirma Cláudia Buzzette Calais, diretora-executiva da Fundação Bunge.

Entenda como funciona o Prêmio Fundação Bunge

O Prêmio Fundação Bunge foi criado em 1955 com o objetivo de incentivar a inovação e disseminação de conhecimento, reconhecendo profissionais que contribuem para o desenvolvimento da cultura e das ciências no Brasil, além de estimular novos talentos. Inspirado no Nobel, o prêmio tem como premissa que as indicações dos nomes sejam feitas por representantes das principais universidades e entidades científicas do país. Os currículos recebidos são avaliados por comissões técnicas independentes formadas por especialistas nas áreas contempladas.

Mais de 200 personalidades brasileiras já foram agraciadas com o Prêmio Fundação Bunge. Entre os agraciados estão Erico Veríssimo, Hilda Hilst, Jorge Amado, Lygia Fagundes Telles, Manuel Bandeira, Rachel de Queiroz, Oscar Niemeyer, Carlos Chagas Filho, Gilberto Freyre, Paulo Freire, Celso Lafer e Fernando Abrucio.

Neste ano, o Prêmio Fundação Bunge contou com um número recorde de indicados. Ao todo, 120 pesquisadores foram recomendados por instituições públicas e privadas de ciência no país para serem homenageados, um aumento de 54% em relação a 2022, quando o Prêmio recebeu 78 indicações.

Conheça cada um dos contemplados

Vida e Obra

Adalberto Luis Val

Referência mundial no estudo da fisiologia dos peixes amazônicos, o biólogo Adalberto Luis Val é pesquisador do INPA há mais de 40 anos, instituição que dirigiu entre 2006 e 2014, e que ajudou a transformar em um dos principais polos de produção de conhecimento sobre a Amazônia e biologia tropical. Com pós-doutorado pela Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, o trabalho científico de Luis Val percorre diversos caminhos a partir do estudo das adaptações biológicas dos peixes às mudanças ambientais, tanto as que acontecem naturalmente nos rios da Amazônia, quanto as que são consequência da ação do homem, passando pelo estabelecimento de indicadores de qualidade ambiental, uso sustentável de recursos naturais e ecotoxilogia. Membro da Academia Mundial de Ciências (TWAS), vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (INCT-ADAPTA), Luis Val contabiliza mais de 210 artigos em publicações científicas no Brasil e no exterior. É co-autor dos livros Fishes of the Amazon and their Environment (Springer Velag) e Physiology of Tropical Fishes (Academic Press). Em 2002, recebeu a Comanda da Ordem Nacional do Mérito Científico e o Prêmio Excelência da American Fisheries Society, em 2004. Em 2013, foi admitido na classe Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico e, em 2016, recebeu o Prêmio Anísio Teixeira, concedido pela CAPES/MEC.

Juventude

Fernando Shintate Galindo

Professor assistente doutor do Departamento de Produção Vegetal, da Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas da Unesp, em Dracena (SP), Fernando Shintate Galindo é mestre e doutor em agronomia pela Faculdade de Engenharia da Unesp, em Ilha Solteira, com doutorado sanduíche no Southwest and Outreach Center Research (SWROC), do College of Food, Agricultural and Natural Resources Sciences, da Universidade de Minnesota. Segundo Galindo, o norte que orientou suas pesquisas é uma necessidade global: o aumento da produção de alimentos. Estimativas apontam que em 30 anos teremos pelo menos mais 2 bilhões de pessoas no planeta. Para suprir essa demanda será preciso aumentar em cerca de 70% a produção de comida. “E fazer isso de forma sustentável, sem ter à disposição novas áreas para exploração agrícola, é um desafio tremendo”, avalia. Os estudos de Galindo giram em torno de bactérias que promovem o crescimento das plantas, um campo de pesquisa – a microbiologia e bioinsumos – em que o Brasil é pioneiro. O jovem cientista é pós-doutor pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), da Universidade de São Paulo (USP), e especialista em solo e nutrição de plantas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP).

Lissandra Amorim Santos

Cientista do Centro Internacional de Equidade em Saúde, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e membro da Rede Latino-Americana Interdisciplinar de Gênero (LAIGN/Yale MacMillan Center), subgrupo de Gênero, Economia, Pobreza e Saúde, Lissandra Amorim Santos joga luz sobre a condição feminina e sua conexão com a insegurança alimentar. Formada em nutrição na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e com mestrado pela mesma instituição, a jovem pesquisadora brasileira tem doutorado em Ciências Nutricionais pela Instituto de Nutrição Josué de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (INJC/UFRJ) com sanduiche na Universidade de Yale (EUA). A partir de dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2004 e 2013 e da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) de 2018, constatou um mesmo padrão: nos três levantamentos os domicílios chefiados por homens tinham prevalência de segurança alimentar em detrimento dos domicílios chefiados por mulheres, que tinham maior insegurança alimentar, inclusive do tipo grave, quando se experimenta a fome. Quando os dados foram estratificados por cor, o resultado mostra que o homem branco é o que está mais protegido da insegurança alimentar. E que as mulheres pardas e negras são as mais vulneráveis. Outra surpresa surgiu quando o recorte levou em conta as regiões do país: a insegurança alimentar moderada/grave é mais associada aos domicílios chefiados pelas mulheres negras em todas as regiões do país.

SERVIÇO

Cerimônia de entrega do Prêmio Fundação Bunge

Data: 28/08/2023

Horário: a partir das 19h30

Local: Sociedade Hípica Paulista

Endereço: R. Quitanda, 206, Brooklin Novo, São Paulo (SP)