Home Direito Ambiental Ações estratégicas do setor de hotelaria hospitalar: redução de custo e sustentabilidade ambiental

Ações estratégicas do setor de hotelaria hospitalar: redução de custo e sustentabilidade ambiental

by rafaelteoc

Miquéias Alves Santos*

Aline de Carvalho Bastos**

O alto consumo de recursos naturais tem desencadeado uma crise socioambiental, obrigando-nos a pensar sobre as nossas práticas de utilização desses recursos. Sendo assim, visando preservar o meio ambiente por meio da avaliação do consumo de recursos naturais, tem sido fundamental pensar em inovações sustentáveis (BENINI; DIAS; PINHEIRO, 2018).

O plástico é um item que gera impacto ao meio ambiente, possui elevado custo financeiro para a sua fabricação e demanda acentuado uso de recursos naturais. O consumo deste item tornou-se comum, elevando a sua produção e exigindo do sistema organização, planejamento e gestão do descarte, uma vez que, descartado de maneira incorreta, polui oceanos e mares a ponto de levar a óbito algumas espécies marinhas, o que também contribui para a extinção destas. Além disso, o ser humano ainda não conhece com clareza quais são as sequelas trazidas pelo microplástico para o corpo humano (WWF, 2019). 

A reciclagem não é a solução para o problema do plástico vivenciado no mundo. Ela contempla alguns entraves, como: em algumas cidades brasileiras, não existe a coleta seletiva ou esta não funciona corretamente; falta informação para a sociedade em relação à correta segregação e ao descarte dos resíduos; uma parte do plástico não pode ser reciclada, pois é composto de polímeros. Diante desse cenário, precisamos pensar em alternativas de consumo (GOULART; PIATRAFESA, 2020).

Com o surgimento do coronavírus, o aumento no consumo de embalagem plástica aumentou significativamente, pois a necessidade de prevenção de contato tornou-se ainda mais indispensável. A partir disso, o custo com a matéria-prima também cresceu: em menos de um ano, a embalagem plástica teve uma alta de 45%, conforme prévia de fevereiro de 2021 do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Após a avaliação deste cenário e buscando práticas sustentáveis de consumo, o setor de hotelaria de um hospital privado em Aracaju (SE) desenvolveu um projeto de ciclo de melhoria, por meio da metodologia Plan, Do, Check, Action (PDCA), com foco em substituir as embalagens plásticas de roupas nos processos de maior consumo (SANTOS; SANTOS, 2020).

A ação partiu de uma robusta interação de processo entre a gestão da hotelaria, a gestão dos setores assistenciais e a gestão da lavanderia, que presta serviço de terceirização. Foi necessário rodar três ciclos no total, conforme descrição a seguir.

CICLO DE MELHORIA 1

A embalagem de recebimento e entrega de roupas à lavanderia, antes sacos plásticos de 200 L, foram substituídas por embalagens ecológicas em tecidos reutilizáveis. Além disso, as embalagens de tecido que trazem as roupas limpas ainda são reutilizadas para armazenar temporariamente a roupa hospitalar utilizada pelo paciente, que, posteriormente, será encaminhada à lavanderia para higienização e desinfecção.

Na tabela a seguir é possível verificar a redução no consumo de embalagem plástica no período.

CICLO DE MELHORIA 2

Outra ação relevante foi revisar o quantitativo de peças do enxoval por embalagem, aumentando o número de itens do enxoval e reduzindo o número de embalagem plástica.

Na tabela a seguir é possível verificar a redução no consumo de embalagem plástica no período comparado.

CICLO DE MELHORIA 3

Substituir 100% das embalagens em plástico de dois itens do enxoval que têm um alto consumo por embalagens em tecido.

Além de trazer ganhos financeiros para a instituição, como melhor redução de gastos com lavanderia, visto que o custo da terceirizada com embalagens foi reduzido, também se está contribuindo com o consumo consciente, que é um dos objetivos estratégicos da empresa. Como sociedade, é importante que cada indivíduo adote formas conscientes de consumo, além de contribuir com o meio ambiente. Em uma instituição, temos várias oportunidades de fazer grandes ações, conectando-nos com a sociedade, não só promovendo o tratamento de doenças, mas, também, compromisso social, bem-estar e contribuição com a qualidade de vida da população.

 

Referências

BENINI. M. S.; DIAS. S. L.; PINHEIRO, A. P. H. J (Orgs.). Saneamento e o ambiente. São Paulo: Anap, 2018. Disponível em: https://www.amigosdanatureza.org.br/biblioteca/livros/item/cod/180. Acesso em: 10 maio 2021.

WWF. Solucionar a poluição plástica: transparência e responsabilização. Genebra: WWF; Dalberg Advisors, 2019. Disponível em: https://d335luupugsy2.cloudfront.net/cms/files/51804/1552932397PLASTIC_REPORT_02-2019_Portugues_FINAL.pdf. Acesso em: 12 maio 2021.

GOULART. R. C. L.; PIATRAFESA. A. P. Ações ambientais positivas e a integração de informações sustentáveis implementadas na administração pública federal. Revista Brasileira de Gestão Ambiental e Sustentabilidade, v. 7, n. 15, p. 283-298, 2020. Disponível em: http://revista.ecogestaobrasil.net/v7n15/v07n15a21.pdf. Acesso em: 13 maio 2021.

PERTUSSATTI. A. C. Gestão ambiental de resíduos plásticos no Brasil: subsídios para uma diretriz nacional. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialista em Gestão Pública) Brasília, Enap, 2020. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/5134/1/Caroline%20Alvarenga%20Pertussatti.pdf. Acesso em: 13 maio 2021.

SANTOS, S. B.; SANTOS, S. S. V. P. Aplicação de ferramentas Lean em uma indústria de transformação de plásticos. Revista Mundi, Paranaguá, v. 5, n. 8, p. 304-01, 304-23, 2020. Disponível em: https://periodicos.ifpr.edu.br/index.php?journal=MundiETG&page=article&op=view&path%5B%5D=1097&path%5B%5D=689. Acesso em: 13 maio 2021.

* Professor, historiador, pós-graduando em MBA executivo em Hotelaria Hospitalar. Coordenador de Hotelaria Hospitalar na Rede Primavera Saúde, em Sergipe. 

 

 

 

** Enfermeira, mestra em Saúde e Ambiente, especialista em Gestão Hospitalar e em Experiência do Paciente. Superintendente assistencial na Rede Primavera Saúde, em Sergipe.