Home Gestão Sustentável A preservação da Amazônia entre a teoria e a prática

A preservação da Amazônia entre a teoria e a prática

by rafaelteoc

Deborah Andrade*

O Brasil é abundante em áreas verdes, em água doce e mar, em terras férteis, em diversidade de fauna e flora. E mais, detém 60% da maior floresta tropical do mundo, a Floresta Amazônica (estima-se que 20% da água doce do planeta corre por sua bacia hidrográfica). Então, Brasil poderia ser sinônimo de paraíso tropical, mas não é. 

Hoje, nosso país é visto além-fronteiras como um vilão antiambientalista. E, antes que comecemos a criticar quem nos critica, é bom olharmos para o nosso quintal e encararmos algumas verdades. Com tanto potencial natural, por que o Brasil não é modelo para o mundo da sustentabilidade? Por que não somos parâmetro planetário de conservação, preservação e uso sustentável dos recursos disponíveis? Porque entramos em um círculo vicioso de interesses questionáveis de exploração ilegal de madeira (estima-se que a Amazônia já tenha perdido quase 20% do seu tamanho original); atividades agropecuárias que ameaçam transformar a floresta em savana; mineração e garimpos clandestinos; contrabando de animais silvestres; queimadas em profusão; aldeias originais e comunidades predominantemente indígenas abandonadas à própria sorte. 

Há cerca de 30 anos, o Brasil aderiu à agenda internacional de desenvolvimento sustentável e realizou, com protagonismo positivo, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, um dos maiores eventos políticos e populares sobre meio ambiente que o planeta já viu. Lá, líderes mundiais comprometeram-se com um futuro, em médio prazo, de sustentabilidade. Os mais ricos apoiariam os países em desenvolvimento – como o Brasil – com dinheiro e tecnologia para investimentos na mudança dos padrões de consumo e na redução do uso de combustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral). Em 2012, houve a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Mais uma vez, os líderes prometeram investir em fontes de energia limpa. Assinaram um documento que se intitulava “O futuro que queremos”. Em 2016, entrava em vigor o Acordo de Paris, assinado por 195 países, inclusive o Brasil, sinalizando o compromisso de redução de gases de efeito estufa. Tantas promessas… 

A recente Cúpula de Líderes sobre o Clima, coordenada pelo líder americano Joe Biden, deu voz a 40 chefes de Estado. O presidente brasileiro (o vigésimo a discursar) falou para o mundo ante a notada ausência de Biden, que havia se retirado pouco antes. Jair Bolsonaro comprometeu-se, teoricamente, a zerar o desmatamento ilegal até 2030; a reduzir as emissões de gases de efeito estufa; a buscar neutralidade climática até 2050; e a fortalecer os órgãos ambientais dobrando os recursos para fiscalização.  

Ao comentar a participação de Bolsonaro na Cúpula de Líderes, Jonh Kerry, Enviado para o Clima no governo americano, embora a tenha considerado positiva, observou: “The question is: will they do them? What’s the follow through and enforcement?”. Compartilho da mesma indagação: como Bolsonaro vai cumprir suas promessas e colocar sua teoria ambiental em prática?

Em novembro de 2021, teremos a COP26, em Glasgow, na Escócia. Certamente, novos acordos globais de desenvolvimento sustentável serão travados. Enquanto isso, os compromissos da Rio-92, feitos há quase 30 anos, seguem em aberto.

 

* Jornalista e documentarista premiada no Festival Internacional de Cinema Ambiental (FICA) por roteiro e direção do filme “Verde como o cacau da Bahia”, produzido pela WWF Brasil.